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Custeio: por que as movimentações não são sempre avaliadas em ordem cronológica?

A princípio, poder-se-ia fazer o custeio seguindo cronologicamente as movimentações, e transferindo o valor correspondente entre posições(registros) de estoque. No entanto, esta forma de calcular valores apresenta dois problemas, ambos resultantes da influência de fatos futuros em valores atuais, que fazem com que não sejam atendidos os requisitos desta forma de custeio:

  • as devoluções e estornos devem ter a data e o valor da movimentação original, não contaminando o estoque para o cálculo da média ponderada móvel , e
  • todos os produtos de uma mesma OP devem ser produzidos pelo mesmo valor (ou a OP deve ser subdividida em lotes, de forma que todos os produtos de um lote sejam produzidos pelo mesmo valor).

Consideremos os seguinte casos:

Caso 1: Valor de baixas de estoque pela média que depende de devoluções futuras. Exemplo de uma posição de estoque:

  • dia 10: recebem-se 2 unidades a R$ 10,00. Valor médio: R$ 10,00
  • dia 15: recebem-se 2 unidades a R$ 100,00. Valor médio: 220/4 = R$ 55,00
  • dia 20: consomem-se em uma baixa 2 unidades a R$ 55,00. Sobram 2 unidades ao valor médio: 110/2 = R$ 55,00
  • dia 25: devolvem-se as 2 unidades recebidas a R$ 100,00, pelo valor do recebimento. Valor médio: 110 – 200 = R$ -90 / 0 = ?

O resultado apresenta 2 problemas:

a) sobraram 0 unidades, mas R$ -90,00

b) as 2 unidades consumidas na baixa não deveriam ter o valor R$ 55,00. Ou seja, as 2 unidades recebidas a R$ 100,00, depois devolvidas, contaminaram indevidamente o estoque.

O correto seria:

  • dia 10: recebem-se 2 unidades a R$ 10,00. Valor médio: R$ 10,00
  • dia 15: recebem-se 2 unidades a R$ 100,00. Valor médio: 220/4 = R$ 55,00
  • dia 25: devolvem-se as 2 unidades recebidas a R$ 100,00, pelo valor do recebimento. Valor médio restante: 20 / 2 = R$ 10,00
  • dia 20: consomem-se em uma baixa as 2 unidades a R$ 10,00. Sobram 0 unidades ao valor médio 0,00. Mas, para isso, é necessário realizar a devolução antes da contaminação da média.

Caso 2: Conclusões parciais (e retirada de estoque) do produto de uma OP, em ritmo não necessariamente igual à baixa de insumos e trabalho para a OP:

  • dia 10: baixam-se insumos e trabalho no valor de R$ 100,00 para uma OP de 2 unidades, mas não se sabe quanto ainda será baixado no futuro. Vamos assumir que faltem R$ 20,00.
  • dia 11: conclui-se e consome-se 1 unidade do produto, que é consumida a R$ 120,00/2 = R$ 60,00, correspondendo ao seu valor nominal.
  • dia 12: devido a problemas de engenharia e produção é necessário baixar mais R$ 30,00, ao invés de R$ 20,00, levando o valor total consumido a R$ 130,00 para as duas unidades.
  • dia 13: conclui-se a segunda unidade a R$ 130 – 60 = R$ 70,00, para fechar o balanço da ordem de produção. O resultado apresenta o problema de 2 produtos do mesmo processo, a valores diferentes. O correto teria sido atribuir R$ 130,00 / 2 = R$ 65,00 a cada unidade produzida pela OP.

Algoritmo de recálculo dos valores de movimentações e estoque

Este algoritmo calcula o valor das movimentações dentro de um intervalo, em princípio cronologicamente, mas cuidando para que:

a) devoluções e estornos de recebimentos sejam realizados antes da contaminação do estoque

b) todos os produtos de uma OP tenham o mesmo valor.

Partes do algoritmo:

1) seleção dos itens e movimentações

O algoritmo deve considerar os itens de todas os registros de estoque que:

  1. receberam algum valor no período;
  2. receberam alguma movimentação a partir dessas posições, recursivamente, mesmo que essas movimentações tenham ocorrido em períodos anteriores.

Não é suficiente considerar todos os itens que sofreram movimentações em determinado período, por exemplo após o último fechamento contábil. É necessário considerar todos os itens cujas posições sofreram alterações de valor, mesmo que essas posições não tenham sofrido movimentações físicas no período. Exemplo:

  • em agosto foi recebido um insumo X3, transferido para a OP do item X4, que foi concluída, alimentando outra OP do item X5, que também foi concluída. etc… até a conclusão do produto X6, que também ocorreu em agosto.
  • em 1.9 houve um fechamento contábil.
  • em 5.9 ocorreu a venda do produto X6
  • em 10.9 foi recebida a NF de frete do insumo X3. Quando se fizer o custeio, haverá um acréscimo de valor do insumo X3, na sua respectiva posição, mas não haverá movimentações dos itens X3, X4 e X5 a partir do último fechamento contábil. Haverá apenas a movimentação de venda do produto X6, de Produto pronto para Custo dos Produtos Vendidos (CPV). No entanto, estes itens sofrem alterações de valor em função deste frete, que se refletirão no Custo dos Produtos Vendidos. Ou seja, estes itens, X3, X4 e X5, devem entrar na análise do custeio, mesmo que não tenham sofrido movimentação. Em outras palavras, devem ser incluídos todos os itens que tiveram alteração de valor, mesmo que não tenham sofrido movimentação física.

2) ordenamento de itens

É feito o ordenamento de itens, dos insumos para os produtos, de forma que nunca um insumo seja analisado depois do seu produto. Para isso, podem ser formados pares (origem, destino) a partir da análise das movimentações do período, de baixa dos insumos para as OPs.

3) análise de cada item

A análise de cada item é feita em ordem cronológica, exceto:

  1. devoluções e estornos devem ser feitos antes da análise cronológica
  2. o valor de cada OP deve ser determinado antes da conclusão de seus produtos.

Durante a análise de um item:

  • sempre que o valor de uma movimentação tiver sido executado (isto é, subtraído da origem e adicionado ao destino), marcar a movimentação como “executada”, para evitar adicionar duas vezes o valor de uma mesma movimentação.
  • anular os estornos e devoluções de forma que, quando lermos as movimentações cronologicamente, nem as idas, nem as voltas, sejam considerados, apenas os saldos.

Ao tratar cronologicamente as movimentações deste item:

  • se a movimentação tem como origem uma posição não-OP (de outro item), então subtrair o valor médio do local de origem, movimentá-lo e adicioná-lo ao valor da posição de destino. Se o destino da movimentação é uma OP, adicionar o valor à mesma.
  • caso se esteja movimentando o produto de uma OP, então a cronologia deve ser alterada:
    • obter o seu custo total (os insumos já terão sido somados, pois serão de itens analisados anteriormente)
    • somar o custo do trabalho da OP
    • movimentar todas as saídas desta OP e adicioná-las aos seus destinos, com valores proporcionais à quantidade transferida.
    • na análise cronológica das movimentações deste item, as movimentações já realizadas devem ser puladas. Ou seja, a análise das movimentações originárias de uma OP é completamente realizada na conclusão de sua primeira quantidade.